quarta-feira, 6 de junho de 2012

Economista indiano alerta que é preciso mudar com urgência os padrões de consumo e produção da sociedade


ENTREVISTA - Pavan Sukhdev

O GLOBO: O que é razoável esperar como resultado da Rio+20?

PAVAN SUKHDEV: Há duas dimensões a olhar: o lado governamental e o corporativo. Do lado governamental, se for aceita a criação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, com base no que a Colômbia e a Guatemala apresentaram, seria uma conquista. Os objetivos dizem respeito a quatro áreas-chave: melhorar o bem-estar humano; melhorar a distribuição de renda; reduzir o risco ambiental; e reduzir a escassez ecológica, com mais disponibilidade de água e solo de boa qualidade, principalmente para os pobres. Se eles não conseguirem ao menos chegar ao um acordo sobre isso, acho que será um fracasso. Se eles querem desenvolvimento sustentável, é preciso correr atrás de uma economia verde, e essas são as coisas que a economia verde proporcionará, se for bem estruturada.

E do lado corporativo, o que precisa acontecer?

SUKHDEV: Os governos que participam da Rio+20 precisam pedir às autoridades reguladoras que insistam para que as empresam divulguem suas externalidades. Isso quer dizer que as empresas têm que medir o tamanho do dano e dos benefícios que estão causando com o atual modelo corporativo. O modelo de hoje não é capaz de gerar uma economia verde. Precisamos que as corporações do futuro o sejam. Mas, para isso, é preciso que os governos criem certas regras.

A mudança nas regras tem de preceder aquela no comportamento das empresas?

SUKHDEV: Não acredito que os executivos vão levantar amanhã e dizer: "Aleluia, vamos salvar o mundo!". Corporações existem para dar lucro. Estamos seguindo um modelo corporativo que pertence à década de 1920, mas precisamos da corporação de 2020.

Qual será o papel da sociedade civil nessas mudanças?

SUKHDEV: É o papel mais importante de todos, se acordar para o que é necessário fazer. Hoje a sociedade civil está confusa. Não entende que são necessárias ações para mudar as corporações. A menos que aja na direção de criar essas mudanças nas corporações, a sociedade civil terá fracassado.

O senhor pode dar um exemplo desse tipo de mudança?

SUKHDEV: A BP produz um vazamento no Golfo do México, destrói a vida de milhares de pessoas, mas a sociedade civil não sabe o que dizer. Há muita ação em Nova York, pessoas agitando, "nós somos os 99%". Mas não há soluções. A solução é mudar a natureza das corporações. Isso é o que a sociedade civil precisa fazer.

Isso envolve a mudança nos padrões de consumo?

SUKHDEV: Sim, mudança de padrões de produção e de consumo. No caso dos EUA, é preciso reduzir o consumo a 1/5 do volume atual. Na Europa, a proporção é de 2/5; no Japão, de 2/4. E conheço muitas empresas que produzem impactos positivos. A Natura é um exemplo. Ela produz um enorme impacto positivo sobre o capital social, dando trabalho a 1,2 milhão de donas de casa. Infelizmente, há poucas Naturas e muitas BPs.

Há pessoas nos países emergentes, como China, Índia, Brasil, que argumentam não ser justo as nações ricas dizerem às demais que, agora que chegou a vez delas, não se pode mais usar os recursos naturais...

SUKHDEV: O caminho para uma economia verde é muito diferente em um país em desenvolvimento. Queremos aumentar o nível de educação, de saúde, a renda per capita , sem aumentar a pegada ecológica. Isso é o que se chama desenvolvimento verde. O que eles, no mundo desenvolvido, têm de fazer é reduzir sua pegada ecológica. Eles já são desenvolvidos, não precisam de mais educação, nem de saúde melhor. Não precisam de um PIB maior.

Como se consegue que as pessoas reduzam seu consumo?

SUKHDEV: Em primeiro lugar, é preciso fazê-las entender que isso é problema delas. Posso repetir isso 24 horas por dia, não adianta. Mas, se a presidente do Brasil e o premier da Índia disserem aos governos de EUA e Europa que eles precisam diminuir sua pegada ecológica, eles terão de ouvir.

Do que o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) necessita para ser mais eficiente?

SUKHDEV: É preciso mais colaboração. Mudar um sistema ou uma agência na ONU exige muito esforço e muito tempo. Sabemos quais são os problemas, ninguém precisa dizer isso à ONU, o que ela precisa é de poder e de meios para agir. Mas mudar o sistema da ONU vai levar 20 anos. Não temos 20 anos. Não há mais tempo para discussões, precisamos de ação.

Como levar esse sentido de urgência para a Rio+20?

SUKHDEV: Quando eles terminarem as consultas, pode ser tarde demais. Precisamos de ações urgentes. Não podemos ter uma Rio+40, não haverá tempo. Estamos nos comportando como idiotas. A questão do desenvolvimento sustentável não é para a próxima geração, é para a nossa.

Fonte: O Globo

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